Foram convocados para a reunião dois dos ministros de confiança da presidente, José Eduardo Cardozo (Advocacia-Geral da União) e Jaques Wagner (Casa Civil), pouco depois de cerimônia de posse de Cardozo na AGU.
A presidente Dilma Rousseff convocou reunião de emergência no Palácio do Planalto, no início da tarde desta quinta-feira (3), para discutir o impacto da reportagem da revista IstoÉ sobre a delação negociada pelo ex-líder do governo Delcídio do Amaral (PT-SP) no âmbito da Operação Lava Jato. Segundo a reportagem, o relato do parlamentar envolve o ex-presidente Lula e a própria Dilma de tentar interferir nas investigações sobre o esquema de corrupção descoberto pela Polícia Federal na Petrobras. Foram convocados para a reunião dois dos ministros de confiança da presidente, José Eduardo Cardozo (Advocacia-Geral da União) e Jaques Wagner (Casa Civil), pouco depois de cerimônia de posse de Cardozo na AGU.
A estratégia do governo, por mais contundente que seja a notícia, é desqualificar a delação de Delcídio – que, segundo a defesa do senador, não existe. Instantes depois de tomar posse na AGU, Cardozo, por exemplo, declarou à imprensa que Delcídio não tem qualquer credibilidade para fazer acusações e reage motivado por vingança – Delcídio foi preso em 25 de novembro e ficou preso por quase três meses por ter tentado interferir no andamento da Lava Jato. Ele está sob regime especial e pode trabalhar no Congresso, embora esteja licenciado, mas deve se recolher à sua residência em feriados e fins de semana.
“Se efetivamente houve isso [delação], há forte possibilidade de se tratar de retaliação, até porque isso foi anunciado previamente”, declarou Cardozo, referindo-se aos rumores de que Delcídio denunciaria correligionários.
Segundo a reportagem da IstoÉ, o senador pediu ao ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, responsável pelos inquéritos da Lava Jato, prazo de seis meses para que a delação seja homologada, com a alegação de que precisa de tempo para se defender no Senado, onde também é alvo de investigação no Conselho de Ética. Apresentando fotos, a publicação afirma ter tido acesso a um documento de 400 páginas com o conteúdo do depoimento preliminar de Delcídio aos procuradores da operação.
Em um dos trechos do documento, o senador afirma que é “indiscutível e inegável a movimentação sistemática do agora ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo e da própria presidente Dilma Rousseff no sentido de promover a soltura dos réus presos na operação”. O senador também teria declarado que Lula marcou a conversa entre ele e o ator Bernardo Cerveró – filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, já condenado na Lava Jato – que acabou culminando na prisão do ex-líder do governo. Partiu de Lula a ordem para pagar pelo silêncio de Cerveró e outras testemunhas, segundo o relato.
Com o instrumento da delação premiada, que consiste em apresentação de provas em troca de redução de pena, o acusado cita nomes e fatos que pretende anexar aos autos do inquérito. Para ter validade, a delação de Delcídio precisa ser homologada por um ministro STF, em razão do foro privilegiado de que gozam os congressistas.
Congresso em Foco
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