quarta-feira, 16 de março de 2016

Transposição pode não ser suficiente para irrigação na PB, diz especialista

Baixo nível e seca na bacia do rio tem provocado preocupações. Engenheiro orienta que governo busque dessalinização de água do mar. 


As águas do Rio São Francisco que deverão chegar à Paraíba por meio das obras de transposição podem não ser suficientes para atender a demanda de consumo humano e irrigação no estado, segundo especialistas. Com mais de 3 mil quilômetros de extensão, o rio passou por maus momentos entre 2014 e 2015, quando a nascente quase secou. Mesmo existindo essa preocupação, as autoridades do Estado acreditam que esta ainda é a única saída em busca da segurança hídrica.

O rio passa por cinco estados (Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas) e com a transposição deve chegar a mais três: Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. Entretanto, a situação do São Francisco e das barragens ao longo do curso da água preocupam os pesquisadores. Em Sobradinho, na Bahia, por exemplo, a barragem local está com pouco mais de 30% da capacidade e é dela que a água vai escoar para a Paraíba, passando por Pernambuco.

Segundo o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, Anivaldo Miranda, um problema que pode influenciar no abastecimento é que o rio é responsável pela geração de energia elétrica de todo o Nordeste. “A lógica está voltada para a geração de energia. Cada vez que diminui a vazão, causa má qualidade. Tem comunidade da própria bacia que está sem abastecimento. O sistema elétrico não pode depender tanto do São Francisco”, afirmou. Só em Sobradinho, por exemplo, dos 34 bilhões de metros cúbicos da capacidade, mais de 80% são usados na hidroelétrica.

O engenheiro civil e gestor ambiental João Ferreira Filho, que trabalhou na obra da transposição defende o projeto, mas acredita que a medida não vai garantir água por muito tempo. “Nós vamos ter déficit de 70 metros cúbicos por segundo em 2025. Temos que
importar água do Tocantins, do Paraná, de bacias mais distantes e pensar na dessalinização do mar com transporte, como fazem outros países. É uma proposta cara? Caro é não ter água, é ficar uma cidade como Campina Grande quatro dias sem água, pois afeta a economia”, destacou o engenheiro.

Ainda segundo Anivaldo Miranda, há regiões na Paraíba que se beneficiarão com abastecimento para consumo humano como Campina Grande, com o canal leste. “Haverá água para consumo humano, mas não se sabe se para irrigação. Se eu tiver a garantia da água de beber trazida do São Francisco eu vou poder usar na irrigação, mas de forma cientificamente controlada, como por gotejamento”, frisou.

“As águas em canal foram feitas para projetos de irrigação só que será água de alto custo e problemas com a escassez de água são agravados. Se fosse só para consumo humano adutoras teriam sido mais rápido e mais barato”, acrescentou Anivaldo.

Outra preocupação é que aconteça no canal do São Francisco o que foi constatado pelo Tribunal de Contas do Estado da Paraíba no projeto irrigado das várzeas de Sousa, por exemplo. Nos 37 km de canal que levam água de Coremas para Sousa, o TCE constatou vários desvios de água e retirada ilegal.

O Ministro Interino da Integração Nacional, Carlos Vieira, diz que haverá fiscalização. “A fiscalização, desvio, manutenção e operação serão feitos pela Companhia do Vale do São Francisco”, disse ele. Já para o Secretário de Infraestrutura da Paraíba o importante é que a água chegue, mesmo que carregue uma corrente de incertezas.

“Se as águas chegassem hoje seriam muito bem-vindas e iriam para todo o estado porque a vazão é controlada, respeita as capacidades. Para a água chegar em Monteiro terá elevação por bombas em 300 metros se houver demanda. O importante é concluir a obra”, disse João Azevedo.

Andamento das obras
As obras de transposição das águas do Rio São Francisco na Paraíba estão 85% concluídas e devem ser entregues até o início do próximo ano, segundo o Ministério da Integração Nacional. Para o estado, estão sendo construídos dois trechos com acesso pelas cidades de Monte Horebe, no Sertão, e Monteiro, no Cariri paraibano.

G1 Paraíba

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