Dados divulgados nesta terça (5) mostram que já foram notificados 3.174 casos suspeitos de microcefalia relacionada ao zika em recém-nascidos.
AGÊNCIA BRASIL
Pesquisadores estão usando células-tronco e animais, como camundongos e macacos, para tentar entender como o vírus Zika afeta as células nervosas do cérebro humano. Os experimentos estão sendo feitos por uma rede de estudiosos, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
A coordenação é do professor Paolo Marinho de Andrade Zanotto, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP), Paolo Marinho de Andrade Zanotto. “Tentamos entender o que está acontecendo no cérebro. Estamos usando modelos com camundongos e um modelo humano de microencéfalo, que são células-tronco modificadas, reprogramadas em laboratório, em uma condição onde elas se desenvolvem tridimensionalmente em uma estrutura parecida com um microencéfalo”, disse o professor.
As estruturas feitas a partir das células-tronco são infectadas pelo vírus Zika e, então, analisadas. Nos experimentos também estão sendo infectadas células de origem nervosa de insetos e de macacos. “Estamos começando a analisar o que que o vírus faz.”
Dados divulgados nesta terça-feira (5) pelo Ministério da Saúde mostram que já foram notificados 3.174 casos suspeitos de microcefalia relacionada ao vírus Zika em recém-nascidos. Pela primeira vez, está sendo investigado um caso no estado do Amazonas. As notificações estão distribuídas em 684 municípios de 21 unidades da federação. Também estão em investigação 38 óbitos de bebês com microcefalia, possivelmente relacionados ao vírus Zika.
Uma pequena parte dos laboratórios brasileiros já é capaz de fazer testes de detecção do Zika a partir do DNA, mas o processo é complexo e demorado, e não há escala para atender a atual demanda. O desenvolvimento de testes rápidos e simplificados, que possam ser aplicados em grande escala, também está sendo feito pela equipe coordenada por Zanotto.
O pesquisador disse que a meta é ter alguma coisa pronta antes de um eventual surto em São Paulo. De acordo com Zanotto, existe a possibilidade de isso ocorer de forma mais intensa no final do verão. "No entanto, não há garantia de que o teste rápido fique pronto até o fim da estação. Espero que sim, pode ser até antes, pode ser depois. Isso não é como fazer bolo, que tem uma receita pronta”, afirmou.
Pesquisadores senegaleses apoiam brasileiros
O grupo de pesquisadores brasileiros recebeu nesta semana o auxílio de estudiosos do Instituto Pasteur, de Dakar, no Senegal, que também desenvolvem testes rápidos para a detecção do Zika. “Eles têm alguns testes que estão, inclusive, bem desenvolvidos. O problema é que mesmo os testes que eles trouxeram para cá, e que estamos usando, só podem ser usados em um contexto de pesquisa. Não existe produção suficiente para se disponibilizar os testes para a população, em geral.”
Segundo Zanotto, depois que os testes rápidos forem validados em laboratório, serão disponibilizados para o Instituto Butantan, que os desenvolverá em grande escala. “É importante fazer primeiro a validação em laboratório e depois passar a tecnologia para o Butantan. Aí, eles fazem o que se chama scale up [aumento de escala]. Durante a pesquisa básica, a gente não está em ponto de fazer isso ainda.”
Em dezembro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta reconhecendo a relação entre o aumento dos casos do vírus e o crescimento dos casos de microcefalia e da síndrome de Guillain-Barré no Brasil.
Zanotto explicou que o Zika é um agente que infecta principalmente animais, como macacos e mosquitos, mas pode ser transmitido para humanos. O vírus é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, mesmo transmissor da dengue da febre chikungunya. Estudos sugerem que teriam ocorrido casos esporádicos de infecção em humanos no passado e que o vírus teria saído da África por volta da segunda metade do século 20. O primeiro surto significativo conhecido em humanos, causado pela linhagem asiática do vírus, ocorreu em 2007, nos Estados Federados da Micronésia.
Entre 2013 e 2014 o vírus causou uma epidemia significativa na Polinésia Francesa, espalhando-se pela Oceania e chegando à América pela Ilha de Páscoa, no Chile, em 2014. No ano passado, o Zika foi detectado em alguns estados brasileiros, com a maioria dos casos registrada na Região Nordeste. Houve registros também em outros países da América do Sul.
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