Um dia após a Petrobras anunciar cortes de US$ 32 bilhões nos seus
investimentos nos próximos três anos, as ações da estatal voltaram a
cair. Com as dificuldades enfrentadas pela companhia, a cadeia de
fornecedores já se prepara para o anúncio de novos cortes no orçamento.
Segundo empresários e associações ligadas à indústria naval, de máquinas
e equipamentos para o setor, a sinalização da estatal é que em março
haverá novo ajuste nas projeções de investimentos e nas premissas
financeiras, em novo plano de negócios referente a 2016 a 2020.
Nessa
quarta-feira (13), o valor de mercado da petroleira retomou ao patamar
de abril de 2004, estimado em R$ 80,1 bilhões, segundo a consultoria
Economática. As ações ordinárias (ON) da Petrobras fecharam na mínima do
dia, com queda de 2,86%, a R$ 6,80. Já a ação preferencial (PN) teve
perda de 4,7%, a R$ 5,27, menor cotação desde 26 de novembro de 2003. Os
papéis acumulam desvalorização de cerca de 21% em janeiro.
Com a
crise da Petrobras, o prognóstico é de mais demissões na indústria e
empresas prestadoras de serviços ligados à exploração offshore. A
Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) prevê corte de
25 mil vagas ao longo de 2016, em parte por causa da paralisia de
encomendas do setor. Já a Organização dos Municípios Produtores de
Petróleo (Ompetro) prevê redução de 38% no número de sondas em operação
somente na Bacia de Campos, principal área produtora do País. Para este
ano, a previsão é que apenas 22 das 36 sondas previstas estejam em
operação. Há três anos, em 2013, havia 70 unidades na região
Um
executivo de uma grande fornecedora de sondas à petroleira afirma que
muitas empresas deixaram o Brasil e as que permaneceram negociam com a
Petrobras a redução das taxas de afretamento. A dificuldade de caixa da
petroleira forçou a retração dos projetos e também a demanda por sondas.
Segundo a fonte, hoje, a petroleira possui mais sondas afretadas do que
precisa, o que reforça a avaliação de que novos cortes e renegociações
de contratos devem ocorrer neste ano.
A retração dos investimentos
na Área de Exploração e Produção, diante dos baixos preços
internacionais do petróleo, também afeta empresas prestadoras de serviço
que atuam no apoio à atividade petrolífera nos municípios produtores –
além do aluguel de sondas, transportes de cargas, aluguel de imóveis,
serviços gerais.
“A primeira quinzena de janeiro de 2016 é a
confirmação de um cenário insustentável para os municípios”, afirmou o
prefeito de Macaé e presidente da Ompetro, Aluízio Santos, para quem
novos cortes serão inevitáveis para a Petrobrás. “Ela não vai conseguir a
solvência com o atual cenário”.
Contratos
Segundo Santos, a
Petrobras é a única cliente da maior parte das empresas instaladas em
Macaé, a principal base da estatal no norte fluminense. Com a redução de
sua capacidade de investimentos, a perspectiva é “desemprego em
cadeia”. “Este ano se anuncia muito pior que 2015”, resume o prefeito de
Macaé. As empresas de construção naval também estão preocupadas.
Segundo fontes do setor, não há perspectiva de construção de novas
embarcações pela subsidiária de logística da Petrobrás, a Transpetro.
“Há
mais de um ano, a Petrobras não fecha novos contratos com as empresas
do setor, que hoje vivem da manutenção de contratos antigos”, afirmou o
presidente da Abimaq, José Velloso. Segundo ele, nos últimos três anos a
indústria de máquinas já perdeu mias de 60 mil trabalhadores. Somente
no último ano, foram 35 mil funcionários demitidos.
Estadão
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