Procedimento realizado no dia 11 de dezembro ainda não tem autorização para ser feito no país. Conselho vai investigar caso.
OTHACYA LOPES
O Conselho Regional de Medicina (CRM) deverá investigar o procedimento cirúrgico pioneiro que promete frear e reverter o mal de Alzheimer. A cirurgia foi realizada em dezembro no Hospital Napoleão Laureano, em João Pessoa. A entidade analisa quais providências cabíveis deverão ser tomadas quanto à realização da cirurgia. Segundo o presidente do CRM, João Medeiros, somente pelo fato de não ter aprovação legal nem comprovação científica da eficácia, o 'Implante de Estimulador Cerebral Profundo' não deveria ter sido realizado, considerando-se assim como um experimento.
“Se é um procedimento ainda não autorizado pelos órgãos competentes, ele é considerado experimental e um procedimento assim precisa seguir regras para ser feito. Estamos analisando sigilosamente para então nos posicionarmos definitivamente com relação a isso”, assegurou.
Conforme o presidente do CRM, para ser realizado, um procedimento precisa primeiramente passar por uma avaliação e legalização por parte do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Comissão Nacional de Implantação de Novas Tecnologias no SUS (Conitec). Não havendo essa legalização, comprova-se o caráter experimental do procedimento, devendo este ser realizado em instituições de pesquisa e universidades, inclusive sem cobrança de honorários, estando passível de punição, caso não seja assim feito.
Preocupação. Essa é a palavra usada pelo médico para descrever o momento em que o CRM se encontra com relação a esse caso. Segundo João Medeiros, apesar de haver experiências positivas fora do país, no Brasil não é um procedimento aprovado.
“É preciso ter normas. Se não tiver uma forma de controle, vira uma 'Torre de Babel'. Nossa preocupação também é que tem sido divulgado amplamente, alimentando esperanças da população em um procedimento experimental não autorizado. É preciso ter cautela e prudência".
POSIÇÃO DO SIMED-PB
Apesar de destacar a importância de seguir as determinações do CFM, reiterando a necessidade de seguir padrões para garantir a segurança de todo e qualquer procedimento, o presidente do Sindicato dos Médicos da Paraíba (Simed-PB), Tarcísio Campos, viu com bons olhos o fato do procedimento mostrar que o Estado tem capacidade clínica e médica para realizar procedimentos complexos.
“Não deixa de ser um motivo de orgulho para nós porque demonstra a capacidade tanto do ponto de vista do hospital quanto do ponto de vista médico. São dois aspectos, porque não podemos deixar de lado o fato de não ser um procedimento autorizado. Nós tomamos uma posição apenas secundária, pois a final é do CRM e CFM. Tenho certeza que isso será feito o quanto antes”, opinou.
OUTRO LADO
O neurocirurgião responsável pela cirurgia pioneira no Estado, Rodrigo Marmo, destacou que esse é um procedimento que já foi realizado nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, com experiências de eficácia comprovada no Canadá, o que descarta a posição de experimento. Ele ainda desabafou que lamenta a forma como está sendo encarada a realização desse procedimento por parte da comunidade médica.
“O CRM é nosso órgão de representação, mas não existe uma legislação própria na cirurgia do Alzheimer. Foi dada uma liminar judicial favorável e esse foi meu respaldo. Aguardarei ser inquirido a respeito para me posicionar nesse sentido, mas quero destacar que não foi feito de forma leviana. Isso não é uma cura, é uma terapia modulável. Tanto é que me assustei com toda a repercussão. Acredito que o próprio CRM tem que ver isso como uma luz e um parâmetro para próximos casos”, destacou.
SEM RESPOSTA
A reportagem tentou entrar em contato com a direção do Hospital Napoleão Laureano, com o Ministério da Saúde e com a Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, mas não obteve êxito até o fechamento desta edição.
Saiba Mais
Pela primeira vez na Paraíba foi realizada uma cirurgia que promete frear e reverter o Alzheimer. A cirurgia, denominada 'Implante de Estimulador Cerebral Profundo', foi realizada no dia 11 de dezembro, em João Pessoa, no Hospital Napoleão Laureano, em um paciente idoso de 77 anos, diagnosticado há dois anos com Alzheimer, em quadro de leve a moderado da doença. O procedimento foi realizado pelo médico neurologista paraibano Rodrigo Marmo, que fez especialização em Toronto, no Canadá, local considerado o berço das pesquisas no segmento neurológico.
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